O relatório afirmou que os valores captados pela empresa eram transitados para as contas pessoais dos proprietários da Braiscompany, o que demonstraria a gestão fraudulenta da empresa Sede da Braiscompany, em Campina GrandeEwerton Correia/TV ParaíbaO relatório da Comissão Parlamentar Inquério (CPI) das Pirâmides Financeiras foi aprovado nesta segunda-feira (9) e o parecer assinado pelo deputado Ricardo Silva (PSD-SP) concluiu que a Braiscompany, empresa de criptoativos com sede em Campina Grande, enganava os clientes com promessas de falsos lucros, produzindo uma imagem de ostentação e fraudava os lucros da empresa. Segundo o relatório, a empresa gestora de criptoativos captou milhares de clientes, principalmente os moradores de Campina Grande, no Agreste da Paraíba, mediante a promessa de "ganhos astronômicos" e "completamente fora da realidade de qualquer mercado". O documento anexou publicações de redes sociais da Braiscompany em que prometiam uma rentabilidade mensal de 15% ao mês para os investidores. Em outra publicação, a empresa também afirmava que era possível transformar 1 mil reais em R$ 13 mil em apenas um ano com investimento em bitcoin. "Os dois fundadores tinham vasto conhecimento sobre o mercado das pirâmides financeiras e fundaram sua própria empresa para enganar e lesar milhares de cidadãos que acreditaram em suas falsas promessas", avaliou o relatório. Os sócios-fundadores Antônio Ais e Fabrícia Ais sustentavam, segundo o relatório, uma imagem de alto padrão de vida para demonstrar para os clientes a alta rentabilidade da empresa. Segundo o relatório, a ostentação é um padrão em todas as pirâmides financeiras porque os empresários precisam mostrar às vítimas que obtiveram sucessos e elas também podem conseguir o mesmo. Antônio Inácio da Silva Neto, conhecido como Antônio Neto Ais, e Fabricia Ais, fundadores da BraiscompanyReprodução/BraiscompanyO parecer também afirma que os valores captados pela empresa, na maioria das vezes, não eram aplicados em criptomoedas, mas eram utilizados para sustentar a vida de luxo que os sócios-fundadores ostentavam para conquistar clientes. O relatório também aponta que os valores captados pela empresa eram transitados para as contas pessoais dos proprietários da Braiscompany, o que demonstraria a gestão fraudulenta da empresa. A CPI teve acesso aos sigilos fiscais e bancários dos sócios da empresa, que afirmam a movimentação, em 2022, de R$ 8,4 milhões de reais na conta pessoal de Antônio Ais e R$ 22,2 milhões na conta de Fabrícia Ais.A CPI das Pirâmides Financeiras sugeriu o indiciamento do casal fundador da Braiscompany. Os dois foram indiciados pelos crimes de estelionato, lavagem de bens e capitais, gestão fraudulenta e crime de operação de instituição financeira sem autorização. O relatório da CPI das Pirâmides Financeiras Com mais de 500 páginas, o relatório da CPI das Pirâmides Financeiras sugere o indiciamento de 45 pessoas - entre elas, oito pessoas ligadas à 123 Milhas, empresa que em agosto suspendeu a emissão de bilhetes de viagens que já tinham sido pagos pelos clientes. Também foi pedido o indiciamento do ex-jogador Ronaldinho Gaúcho. A votação foi feita de forma simbólica e durou menos de um minuto.O relatório traz uma série de recomendações para órgãos na esfera administrativa, como o Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários, a Secretaria Nacional do Consumidor, entre outros.Entre as sugestões, está uma que propõe à Receita Federal do Brasil atualizar o conceito de criptoativo e ampliar o dever de reportar operações pelos representantes locais das corretoras estrangeiras.O texto também pede uma auditoria fiscal especial de 28 empresas em razão de irregularidades identificadas durante os trabalhos da CPI e que podem configurar crimes contra a ordem tributáriaAo Banco Central é recomendado a apuração da conduta de Prestadores de Serviço de Ativos Virtuais (PSAVs), quando estes fazem uso de configurações de operação de depósito e saques em reais através de contas bancárias que não são de titularidade dos prestadores.Além disso, o relatório propõe quatro projetos de lei para aprimorar:a legislação penal em relação à obtenção de ganhos ilícitos através de processos fraudulentos;a legislação em relação a prestadores de serviços de ativos virtuaisa legislação em relação à publicidade de cripto ativos por influenciadores digitais;a legislação em relação aos programas de milhagem de empresas do setor aéreo.Entenda a polêmica da BraiscompanyA Braiscompany é uma empresa fundada e sediada em Campina Grande, no Agreste da Paraíba. A empresa se envolveu em uma polêmica financeira com suspeita de atraso de pagamentos de ativos digitais. Os próprios clientes da empresa denunciaram o suposto golpe nas redes sociais e deram início ao caso, que já rendeu envolvimento do Ministério Público da Paraíba e Polícia Federal.A empresa, idealizada pelo casal Antônio Ais e Fabrícia Ais, era especializada em gestão de ativos digitais e soluções em tecnologia blockchain. Os investidores convertiam seu dinheiro em ativos digitais, que eram "alugados" para a companhia e ficavam sob a gestão dela pelo período de um ano. Os rendimentos dos clientes representavam o pagamento pela locação dessas criptomoedas.A Braiscompany prometia um retorno financeiro ao redor considerada irreal pelos padrões usuais do mercado. Milhares de moradores de Campina Grande investiram suas economias pessoais na empresa, motivados pelo boca a boca entre parentes, amigos e conhecidos. Antônio Neto Ais, o fundador da companhia, disse em uma live que gerenciava R$ 600 milhões de 10 mil pessoas.Empresa é alvo de operações da Polícia FederalVárias cédulas foram apreendidas pela PF na sede da BraiscompanyDivulgação/Polícia FederalA Braiscompany foi alvo de uma operação da Polícia Federal no dia 16 de fevereiro, que teve como objetivo combater crimes contra o sistema financeiro e o mercado de capitais. As ações da PF aconteceram na sede da empresa e em um condomínio fechado, em Campina Grande, e em em João Pessoa e em São Paulo. A operação foi nomeada de Halving.No dia 23 de fevereiro, aproximadamente R$ 15,3 milhões foram bloqueados de contas de pessoas vinculadas à Braiscompany. De acordo com a PF, os sócios da Braiscompany movimentaram cerca de R$ 1,5 bilhão nos últimos quatro anos, e estão foragidos.Sede da Braiscompany, em Campina GrandeEwerton Correia/TV ParaíbaOs sócios da empresa Braiscompany, Antônio Neto Ais e Fabrícia Ais, tiveram os seus pedidos de prisões temporárias convertidas em preventivas no dia 24 de fevereiro. Assim os seus nomes foram incluídos na lista de procurados da Interpol, a polícia criminal internacional que age em todo mundo. A informação foi confirmada pela Polícia Federal na Paraíba.Em setembro deste ano a empresa foi alvo da 4ª operação da Polícia Federal para combater lavagem de dinheiro decorrente dos crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais.Fundadores estão foragidos há 9 mesesAlém da taxa de retorno financeiro muito acima do regularmente praticado no mercado, boa parte da atração exercida pela Braiscompany está ligada à imagem de seu fundador, Antônio Inácio da Silva Neto. Ele adotou suas três primeiras iniciais como sobrenome e se apresenta como Antônio Neto Ais.Segundo Antônio Neto Ais, CEO da Braiscompany, sucesso da empresa se dá ao mercado em que ela está inserida e ao modelo de gestão da empresa. Camila Ferreira/BraiscompanyO empresário mantinha um Instagram com fotos bem produzidas, registros ao lado de celebridades e vídeos motivacionais. Quando o golpe estourou, sua rede social registrava 900 mil seguidores, que consumiam conteúdo sobre uma vida de luxo e sucesso individual.Neto Ais é casado com Fabrícia Ais, que é sócia e co-fundadora da empresa. Os dois estão foragidos desde fevereiro deste ano.Além de ser sócia e co-fundadora da Braiscompany, Fabrícia Ais é criptotrader profissional e faz a gestão de centro de operações da empresaCamila Ferreira/BraiscompanyEm setembro, o g1 teve acesso ao relatório da Polícia Federal que afirma que ambos fugiram do país pela fronteira terrestre com a Argentina. Eles utilizaram os passaportes da irmã e do cunhado de Fabrícia.Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba