José Maurício Costa e o Pedro Nascimento dizem que a filha de 14 anos foi abordada de forma grosseira e desproporcional pelo dono da General Store, que nega incidente. Delegacia da Infância e Juventude, em João PessoaTV Cabo Branco/ReproduçãoChegou na tarde desta quinta-feira (14) à Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes contra a Infância e a Juventude da Polícia Civil da Paraíba uma denúncia envolvendo um suposto caso de injúria racial contra uma adolescente de 14 anos, que teria sido praticada pelo dono da General Store, bar localizado no Centro Histórico de João Pessoa. O caso refere-se à noite de 4 de julho, por volta das 20h30, e foram os pais da criança, José Maurício Costa e o Pedro Nascimento, quem resolveram levá-lo adiante.A denúncia foi inicialmente registrada no Conselho Tutelar Região Mangabeira, a partir de um “termo de declaração” conduzido pela conselheira tutelar Verônica Silva de Oliveira. Ela explica que colheu a versão de José Maurício, um dos pais da menina, em 11 de julho. Depois, diante da denúncia inicial, notificou o possível agressor, Thiago Stort, dono da General Store, para na segunda-feira (18) prestar esclarecimentos ao Conselho Tutelar. Em paralelo a isso, enviou nesta quinta-feira (14) o caso à Polícia Civil da Paraíba.Procurado pelo g1, Thiago Stort negou qualquer incidente. Ele disse que não recebeu ainda nenhuma notificação e que por isso não está sabendo de nada. “Espero que não seja aqui (na General Store), que seja um erro. Porque eu não estou sabendo de nada”, resumiu.A delegada Joana D"Arc, da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes contra a Infância e a Juventude, confirmou que recebeu o caso. Ela disse, no entanto, que ainda não pode comentar nada sobre as investigações porque antes vai precisar ouvir os envolvidos. Caberá a ela, depois disso, decidir se pede ou não abertura de inquérito.“Aquele tipo de criança, aquele tipo de pais”O advogado José Maurício Costa e o professor universitário Pedro Nascimento são casados e juntos adotaram um casal de filhos. A menina, a mais velha das duas crianças, tem 14 anos e estava com os pais numa festa de aniversário que era realizada na General Store, no dia 4 de julho. Os dois alegam que, naquela noite, um caso de aparente pouca importância acabou tendo uma repercussão bem maior do que a esperada. E principalmente pelo fato de a criança ser negra.José Maurício e Pedro explicam que, em dado momento da festa, a menina, brincando com outra criança, se encostou numa calha de PVC do local, que acabou se deslocando e saindo do lugar. Algo que, inclusive, teria sido rapidamente ajeitado e recolocado na posição correta.O problema foi que, noutro momento, quando a filha manuseava uma baqueta e fazia batidas pontuais numa bateria, com a autorização do músico dono do instrumento, ela teria sido abordada de forma grosseira por Thiago Stort. Que, dedo em riste, mesmo sem ter testemunhado o episódio anterior e ter sabido do ocorrido apenas pelos funcionários do bar, teria mandado ela soltar a baqueta para não quebrar o instrumento da mesma forma como tinha acontecido com o cano.Os pais dizem que a menina ficou bastante abalada. Chorou e foi em busca da proteção de Pedro Nascimento. Quando esse foi conversar com o dono do local, foi recebido igualmente de forma grosseira. Thiago Stort, de acordo com a versão de Pedro e José Maurício, acusou-os de negligência com a adolescente e depois teria dito que estava acostumado a lidar “com aquele tipo de criança e aqueles tipos de pais”.Trecho do "termo de declaração" onde consta de denúncia de injúria racial na General StoreReprodução/Termo de DeclaraçãoPedro e José Maurício são unânimes em classificar o caso como injúria racial e como homofobia, mas que preferiram se preocupar inicialmente com a criança, que justamente por causa da idade é a mais afetada deles.“Foi uma fala preconceituosa e racista”, declara José Maurício.Pedro Nascimento, por sua vez, diz que esse não é o primeiro caso de homofobia que sofrem. Nem o primeiro caso de racismo que testemunham a filha sofrer. Mas que esse doeu mais por acontecer num local que se declara alternativo na cidade. “A gente já viveu outras situações bem pesadas, mas essa tem o agravante de ter sido em um local que a gente achava que estava de algum modo protegido, ainda mais por ser numa festa particular, com pessoas conhecidas”, lamenta Pedro.Ambos afirmam ainda que, quando estavam indo embora pouco depois do incidente, Thiago ainda ensaiou um pedido de desculpas, garantindo não ser racista, mas que nesse momento eles preferiram ignorar a abordagem e irem embora sem novos diálogos com o proprietário do local.Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba