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Bióloga descobre câncer de mama durante a gravidez: "se não fosse a gestação, talvez eu tivesse descoberto tarde demais"


Mesmo sendo diagnosticada durante a gravidez, tratamento não foi afetado e nem a saúde do bebê. Mastologista alerta sobre prevenção ao câncer de mama. Vanessa de Lima viveu a gestação e o tratamento de câncer ao mesmo tempo.

Luciana Morais Vicco

Sem planos concretos de ser mãe, a paraibana Vanessa de Lima descobriu que estava grávida em 2018, no seu segundo ano de doutorado em farmacoquímica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Apesar da ansiedade do inesperado, ela procurou um consultório médico preocupada em saber se o bebê estava bem. Naquele momento, sua intenção era ouvir o coração do seu filho, mas para sua surpresa, o que descobriu lá foi uma lesão que indicava um tumor maligno na mama direita.

“Fui escutar o coração do bebê e saí com um diagnóstico de BIRADS 6, uma lesão bem característica de tumor maligno”, relembra Vanessa. Na época, ela estava com um 'doutorado sanduíche' pré-aprovado na Espanha. Além disso, nem sonhava que podia engravidar, pois suspeitava ter endometriose. “Tive apenas uma relação desprotegida e aconteceu. Só fiz o ultrassom das mamas por conta da coincidência de estar na mesma guia do plano de saúde. Se não fosse a gestação, talvez eu tivesse descoberto o câncer tarde demais”, afirma a bióloga.

Vanessa aguardou as 16 semanas de gestação para começar o tratamento.

Luciana Morais Vicco

Depois dessa notícia terrível, ainda no consultório, ela pode ouvir o coração do seu filho batendo forte. “Ele estava muito bem, mesmo com apenas seis semanas de vida. Ele já havia realizado um milagre. Salvou minha vida e começou a me dar forças para lutar pela vida dele e pela minha”, diz Vanessa.

Logo em seguida, ela realizou uma biópsia e confirmou o temido: “carcinoma ductal invasivo na mama direita e, posteriormente com outra biópsia, a metástase nos linfonodos axilares direito também. Meu mundo desabou. Chorei horrores, pensava que iria morrer, que não teria mais jeito”, fala Vanessa, que possui na família histórico de câncer de mama.

A interrupção da gravidez lhe foi sugerida por alguns profissionais da saúde. Mas seu tratamento não foi afetado pela gravidez, nem a saúde do bebê pelo tratamento. Assim, ela esperou chegar em 16 semanas de gestação antes de dar início às quimioterapias. Além disso, optou por não fazer a cirurgia imediatamente, pois a anestesia poderia ser prejudicial para o bebê. Nem a doença, nem o tratamento afetaram a gestação de Vanessa.

Vanessa em sua primeira sessão de quimioterapia.

Arquivo pessoal

“Me sentia muitas vezes culpada pelo fato de estar doente. Mas nunca desisti de nós.”

Aos poucos, tudo foi se reequilibrando. Com 18 semanas de gestação, Vanessa começou a quimioterapia. Ao todo, foram 16 quimioterapias: 12 brancas e quatro vermelhas, que a fez perder os cabelos. “Eu fui em dois oncologistas para ter certeza se o protocolo seria seguro para o desenvolvimento do bebê. Os dois me garantiram que não teria problema algum. Achei muitos artigos explicando que os quimioterápicos para aquele protocolo de tratamento não atravessariam a barreira placentária. A placenta protegia o bebê de tudo”, explica Vanessa de Lima.

Ao fim do tratamento, Vanessa ainda seguia esperando a chegada de Pedro Emanuel.

Arquivo pessoal

Ao fim do tratamento, em dezembro de 2018, Vanessa ainda seguia esperando a chegada de Pedro Emanuel. “Como ele estava gostando muito do conforto do útero e eu não podia mais perder tempo, em janeiro de 2019 fui para indução de parto. Meu sonho e minha vontade era ter um parto normal humanizado, mas infelizmente por conta de uma desproporção cefalopélvica fui direcionada para cesárea intraparto”. Pedro Emanuel nasceu bem e saudável às 00h05h de 07 de janeiro de 2019.

Ao g1, Vanessa de Lima enviou um vídeo que mostra a sua trajetória sobre gestar e tratar o câncer de mama ao mesmo tempo (veja abaixo).

Bióloga descobre câncer de mama durante a gravidez

Em um primeiro momento, Vanessa se frustrou por achar que não conseguiria amamentar o seu filho. Ela teve que fazer amamentação mista. “Fui e comprei mamadeiras,mas aos poucos tudo foi se ajustando e eu fui liberada para amamentar nas primeiras horas de vida dele. Terminou que eu fui audaciosa e aumentei até ele completar 6 meses de vida. Apesar de ter que introduzir a fórmula, nunca quis deixar de amamentar, só parei mesmo porque deveria recomeçar o tratamento que dura cerca de 5 a 10 anos por se tratar de um câncer com receptores hormonais”, conta.

Vanessa amamentando seu filho Pedro Emanuel.

Arquivo pessoal

Após o parto, Vanessa retornou aos exames de controle que não podia fazer durante a gestação. Confirmou que não tinha mais metástases em local algum e que o câncer continuava apenas localizado na mama direita e linfonodos da axila. Então, em março de 2019, ela fez a mastectomia total com reconstrução imediata. “O mais difícil foi lidar com a perda da força do braço e não poder ter mantido a auréola da mama”, relata.

“Depois de tudo isso, ainda fiz 28 sessões de radioterapia. Finalizei a parte mais difícil de todo esse processo. Mesmo assim, são de 5 a 10 anos de acompanhamento que, aqui e acolá, tiram um pouco o sossego. Mas é isso. Estou viva e sigo vivendo um dia de cada vez”,diz Vanessa.

Hoje, Vanessa está grávida de seu segundo filho. Para ela, isso é uma alegria ainda maior por saber que o tratamento a poderia ter deixado infértil. “Hoje estamos com 19 semanas e um menininho vem pra fazer companhia para irmão. Gratidão a Deus por tudo. Até aqui ele tem me sustentado. Também uma imensa gratidão ao meu esposo e principalmente minha mãe que nunca soltou minha mão. E a todos os profissionais de saúde que me ajudaram nesse longo processo que foi tratar o câncer de mama durante uma gestação”, declara.

Câncer de mama

A mastologista Lise Reis Melo, que trabalha no Hospital Universitário Lauro Wanderley ( HULW/UFPB), explica que não há uma única causa para o câncer de mama.

Lise Reis é membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia

Arquivo pessoal

“Diversos fatores estão associados ao desenvolvimento do câncer de mama. Dentre eles, temos os fatores ambientais e comportamentais, como a obesidade, sedentarismo, consumo excessivo de bebida alcoólica. Também os relacionados à história reprodutiva e hormonal das mulheres, como a menarca precoce, menopausa tardia e os fatores ligados à história familiar, por exemplo, mutações genéticas hereditárias, casos de câncer de mama e/ou ovário na família”, afirma a médica especialista

Segundo a mastologista, é importante ressaltar que a maioria dos casos de câncer de mama ocorre de forma esporádica, e apenas cerca de 10% a 15% ocorrem por uma alteração hereditária, ou seja, aquele que pode ser transmitido de geração em geração.

O câncer de mama é o tipo mais frequente nas mulheres em todas as regiões do Brasil, excluindo-se os casos de câncer de pele não melanoma. De acordo com a especialista, um ponto importante para reduzir os riscos de desenvolver a doença, é a modificação no estilo de vida. “A prática de atividade física regular, manter uma dieta saudável, controlar o peso e a amamentação são fatores associados à diminuição do risco para câncer de mama. Por outro lado, é importante destacar que a obesidade na pós-menopausa, o consumo excessivo de álcool e o tabagismo podem elevar esse risco”, alerta Lise Reis.

*Sob supervisão de Jhonathan Oliveira

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