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Paraiba

"Doutores do sorriso" promovem ações de saúde bucal para crianças de forma lúdica na PB: 'dar autonomia para empoderar'


Ações são feitas por estudantes de odontologia da UEPB em escolas da Paraíba. Ação do projeto "Doutores do sorriso" em escola na Paraíba

Doutores do sorriso/Divulgação

Roupas e chapéus coloridos, rosto pintado e muita vontade de transformar realidades. É assim que grupos de estudantes de odontologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Araruna e Campina Grande, se vestem para embarcar em um mundo de fantasia, onde não só despertam sorrisos, mas também trabalham para que eles estejam sempre saudáveis.

Pelo nome do projeto, já dá pra imaginar como os “doutores do sorriso” trabalham. De forma lúdica e humanizada, os alunos visitam escolas e outros espaços para conscientizar e ensinar crianças e outros públicos sobre a importância da saúde bucal.

As lições, além de bem divertidas, são valiosas para a manutenção de um sorriso saudável. Há escovações supervisionadas, doação de escovas e também aplicação de flúor.

“A gente assiste a criança escovando pra saber qual é o habito que ela estabeleceu. A partir do que a gente observa, ensina como ela pode aperfeiçoar. Nunca dizemos que está errado. Vamos aos poucos dando uma orientação”, explicou a professora Rilva Suely, idealizadora e coordenadora do projeto em Campina Grande.

Dáfny Inglyd Costa, bolsista do projeto, sabe o quanto o trabalho dela e dos colegas é importante. A jovem, de 24 anos, está no sétimo período do curso, e participa da iniciativa desde o primeiro.

“Uma simples orientação de escovação para uma criança nos dá a possibilidade de mudar as condições bucais dela, da família e me atrevo a falar até mesmo dos índices de saúde bucal no Brasil, que ainda são precários para o século ao qual vivemos”, reforçou.

Na Paraíba, 75% dos paraibanos maiores de 60 anos perderam 13 ou mais dentes, conforme dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Já outros mais de 31% dos paraibanos, com idades entre 40 e 59 anos, enfrentaram o mesmo problema. O levantamento reforça que mesmo que a Paraíba possua uma boa cobertura territorial em saúde bucal, não significa diretamente que a população tenha acesso a esses serviços.

As ações são planejadas pelos estudantes sob a orientação dos professores coordenadores do projeto de extensão, que atuam no planejamento de intervenções e os acompanham nas visitas.

As figuras de aparência divertida e fora do comum para o ambiente escolar chamam de cara a atenção dos pequenos.

'Doutores do sorriso' em ação com crianças na Paraíba

Doutores do sorriso/Divulgação

Com a presença dos voluntários, tudo vira motivo para sorrir, até mesmo a escovação dos dentinhos.

Além das brincadeiras, também tem muita música. Assim, aprender como manter a saúde bucal se torna algo leve e natural.

“Para escovar os dentes / Para escovar os dentes / Se necessita um pouquinho de pasta / Um pouquinho de pasta e fio dental / É tão legal é tão legal / Use a pasta e o fio dental / Passe a escova / É tão legal é tão legal”, diz a paródia mais cantada pela turma.

O meio pode até ser lúdico, mas a mensagem que chega até as crianças, é séria.

“É promoção de saúde, porque é com a informação que a chega até a população para dar autonomia, para empoderar esse sujeito de forma que o estimule a ter esse autocuidado”, ressaltou a professora.

"Gratificante ver a alegria na fisionomia das pessoas"

Odontologia preventiva e a saúde pública e coletiva sempre foram áreas da odontologia com que a professora Rilva teve afinidade. O projeto “Doutores do Sorriso” foi criado, oficialmente, em 2003 e cadastrado no ano de 2004. Mas as intervenções começaram bem antes.

A professora lembra com carinho de como e com quem tudo começou.

“Um aluno bem interessado me procurou. Ele sempre se mostrava muito criativo e já tinha participado de outro projeto parecido em hospitais. Pensou em criar um [programa] semelhante aqui, voltado pra saúde bucal. E eu achei a ideia ótima. Como era uma prática que eu já tinha, era só esquematizar”, recordou.

Hoje, depois de quase 20 anos, o sentimento da professora Rilva é o mesmo.

“É tão gratificante ver o entusiasmo e a alegria na fisionomia das pessoas. O agradecimento que eles têm quando a gente termina a ação, pra gente é tudo”, concluiu”.

Professores Pierre e Rilva no início do projeto 'Doutores do sorriso'

Pierre Andrade/Rilva Andrade

O aluno que sugeriu a criação do projeto, Pierre Andrade, se tornou professor e agora coordena a iniciativa no campus de Araruna.

Por somar experiências em ambos os lados, enquanto aluno e professor, Pierre sabe como o projeto muda a percepção dos futuros profissionais.

“É possível fazer com que o aluno entre no processo de entrar e interagir com a comunidade. Que não é só apenas estudar pra passar nas provas, mas eles se tornam mais humanizados, preocupados em passar a informação com cuidado”, refletiu o professor.

Além de responsabilidade atual, ele guarda muitas boas lembranças.

“Tinha uma paródia que a gente cantava chamada 'pastinha, pastinha'. Na rua ou em algum restaurante, as crianças me viam e já começam a cantar. Era quase uma pessoa famosa”, lembrou.

'Enxerguei na odontologia a oportunidade de cuidar de pessoas'

As ações começaram em um hospital infantil de Campina Grande, mas o público logo ficou diversificado, inclusive com o alcance de idosos.

Desde então, antes de colocar a mão na massa, os alunos passam por capacitações, ensaios e treinamentos.

Como o foco da iniciativa é a promoção de saúde bucal em diferentes níveis, as principais atividades envolvem o cuidado para evitar doenças, a exemplo da cárie dentária.

"Enxerguei na odontologia a oportunidade de cuidar de pessoas", ressaltou Dáfny.

A cada seleção, no máximo 16 alunos entram no projeto. Eles são divididos em grupos. Depois da elaboração de um plano de ação, cada equipe vai uma escola e passa um semestre inteiro com o trabalho no local. Se houver necessidade, as ações são prorrogadas na instituição.

Ação do projeto 'Doutores do sorriso' na Paraíba

Doutores do sorisso/Divulgação

Os estudantes se reúnem com a direção e professores e negociam como as atividades vão ser desenvolvidas para que elas não interfiram nos processos pedagógicos.

A escolha das escolas ultrapassa os limites geográficos. Muitas ações foram realizadas na zona rural, por exemplo. As atividades também são feitas de modo itinerante em outras cidades. Esperança, Lagoa Seca, Lagoa de Roça, Serra Branca, Queimadas, Puxinanã e Pocinhos.

Nesses casos, quando a universidade não pode oferecer transporte, a prefeitura manda buscar.

Intervenções foram adaptadas na pandemia

Na pandemia de Covid-19, muitas atividades do ambiente universitário precisaram ser suspensas, inclusive as intervenções presenciais dos “doutores do sorriso”. Antes do início da vacinação e da retomada de atividades, o risco era imenso para os estudantes e também para as crianças. Além disso, as escolas também estavam fechadas.

Mas parar com a missão de levar lições de saúde bucal até as pessoas não foi um opção considerada pelo grupo. O contato deixou de ser físico e passou a ser virtual.

As ações chegaram às pessoas de outro jeito, mas chegaram. A forma encontrada pela equipe foi trabalhar com conteúdos educativos, publicados em um perfil de rede social do projeto.

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