Os produtos são capazes de matar e repelir o inseto utilizando uma baixa concentração de óleo essencial da planta conhecida como alecrim do serrote e alecrim da chapada. Óleo essencial da Lippia gracilis
Reprodução/TV Cabo Branco
Uma planta nativa do cerrado e caatinga, conhecida popularmente como alecrim do serrote e alecrim da chapada, é um potente inseticida e repelente contra o mosquito da dengue. A pesquisa que culminou na descoberta foi realizada pelo estudante de biotecnologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Renan Leite, que comprovou a eficácia da planta em matar e repelir o inseto.
O jovem pesquisador contou que começou a estudar a planta, que tem nome científico Lippia gracilis, superficialmente e fez a sugestão de pesquisa para a sua orientadora, a professora Fabíola Nunes. Os estudos iniciaram em fevereiro de 2023, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), no Laboratório de Biotecnologia Aplicada a Parasitas e Vetores (Lapavet) da UFPB.
Estudante de biotecnologia da UFPB, Renan Leite, pesquisou e desenvolveu inseticida e repelente contra dengue
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De acordo com o estudante, a equipe começou a pesquisa fazendo a extração do óleo essencial das folhas da planta, e foi surpreendida com a alta quantidade de produto extraído, mesmo utilizando uma baixa quantidade de matéria.
"O pessoal que faz pesquisa com óleo essencial utiliza em média 1 kg de folha para extrair entre 1 a 5 ml. Com 300 g dessa folha (Lippia gracilis) conseguimos extrair 22 ml, então precisamos de menos folhas e conseguimos um rendimento muito maior", explicou o estudante.
Após a extração, o passo seguinte foi testar o óleo essencial nas larvas do Aedes aegypti. O estudante Renan Leite explica que constataram a mortalidade das larvas do inseto com uma baixa concentração de óleo, então testaram nas outras fases: as etapas do ovo, pupa e a forma adulta - quando se transformam nos mosquitos como conhecemos. "Conseguimos ótimos resultados tanto para inseticida quanto para repelente", afirmou.
Larvas de mosquito da dengue utilizadas em pesquisa da UFPB
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Como funciona o efeito repelente e inseticida
A professora Fabíola Nunes explica que o inseticida feito com a Lippia gracilis age sobre as células e sobre os tecidos dos mosquitos. O óleo da planta mata as células e altera a produção de uma substância que é presente na hemolinfa dos insetos, responsável pelo processo de proteção desses animais, fazendo com que eles fiquem doentes e morram. A pesquisadora destaca que mais estudos estão sendo realizados para ampliar a compreensão desses mecanismos de ação.
Já o processo de repelência acontece de outra forma. "A substância tem um cheiro muito característico proveniente dos seus componentes voláteis, principalmente o carvacrol e o timol, que dão a ela um cheiro que é bastante agradável, mas acaba por mascarar o odor natural do ser humano, que é atrativo para o mosquito. Então isso confunde o mosquito fazendo com que ele não consiga encontrar sua presa, que no caso somos nós", explica Fabíola Nunes.
Óleo essencial utilizado no desenvolvimento de inseticida e repelente
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De acordo com a professora, o Laboratório de Biotecnologia Aplicada a Parasitas e Vetores (Lapavet) possui uma tradição na pesquisa de inseticidas e repelentes oriundos de produtos naturais e sintéticos, com uma grande variedade de plantas estudadas.
O projeto de pesquisa também já rendeu diversos trabalhos científicos, apresentados em eventos regionais, nacionais e internacionais. A pesquisa também conquistou uma "Menção Honrosa" na área de Drug Design and Discovery, Synthesis and Natural Products, pela comissão avaliadora do 2nd Brazil France Symposium on Medicinal Chemistry, que ocorreu em João Pessoa, em 2023.
Os produtos e a busca por parcerias
Assim como dengue e zika, o chikungunya também é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti
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A pesquisa foi finalizada em quatro meses e gerou dois produtos: um inseticida e um repelente. De acordo com a UFPB, o inseticida é utilizado em formato aerossol ou líquido e o repelente tem aplicação tópica ou aerossol. A universidade também explica que os produtos não estão disponíveis para a comercialização porque aguardam a finalização da liberação de patentes. Não há uma previsão para distribuição dos produtos.
A professora Fabíola Nunes destaca que o laboratório deseja encontrar substâncias que possam chegar até a sociedade e trazer benefícios, mas essa é a etapa mais difícil de toda a pesquisa.
"Embora a pesquisa seja muito difícil, cara e demande tempo, mas conseguimos evoluir bem com as ferramentas que a gente tem dentro da universidade para desenvolver o produto. Agora fazer esse produto ganhar em uma escala de dimensão industrial e ser realmente comercializado é algo que foge um pouco da expertise que temos dentro da universidade", lamenta a professora.
Fabíola explica os pesquisadores também buscam por empresas interessadas em adicionar os produtos no seu portfólio, adquirindo a patente ou firmando uma parceria com a universidade.
UFPB desenvolve pesquisas para ajudar no combate à dengue
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