Para continuar em liberdade, o influencer deve cumprir medidas cautelares, dentre elas o uso de tornozeleira eletrônica. Rodrigo Lima é investigado por incitar atos golpistas de 8 de janeiro
Reprodução/Instagram/Rodrigo Lima
O influencer bolsonarista Rodrigo Lima, suspeito de incitar os atos golpistas do dia 8 de janeiro, foi solto após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A soltura foi determinada nesta sexta-feira (1).
O paraibano estava preso desde 17 de agosto, no âmbito da Operação Lesa Pátria, após ter a prisão preventiva mantida após audiência de custódia.
"Até o momento não foram apresentados outros elementos a indicar que sua conduta padece de maior gravidade. Assim, a eficácia da medida extrema já se demonstrou suficiente, podendo ser eficazmente substituída por medidas alternativas", decide o ministro, conforme decisão a que o g1 teve acesso.
Rodrigo Lima deve cumprir medidas cautelares para continuar em liberdade, dentre elas não usar as redes sociais. Ele também terá que usar tornozeleira eletrônica, não poderá sair de casa à noite e não poderá se comunicar com outros investigados. O influencer também terá que se apresentar semanalmente à comarca, todas as segundas-feiras, e não poderá se ausentar do país e terá que entregar o passaporte.
O advogado do influencer comemorou a decisão e disse que a medida foi tomada dois dias após ele ter denunciado o ministro Alexandre de Moraes ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo a defesa, Alexandre de Moraes não reavaliou a prisão no prazo de 90 dias, como manda a lei, e nem concedeu vistas do processo à defesa.
Operação Lesa Pátria
Rodrigo foi preso pela Polícia Federal na manhã do dia 17 de agosto em uma nova fase da operação Lesa Pátria, que apura os suspeitos de financiar os atos. Em todo o país, foram 16 mandados de busca e apreensão e 10 mandados de prisão preventiva. Os mandados na Paraíba foram todos em João Pessoa.
Na época, a defesa de Rodrigo Lima disse que a prisão "é extremamente desnecessária" e afirmou que "ele não participou dos atos ocorridos no dia 8 de janeiro". O advogado Aécio Farias, que representa o influencer, afirmou ainda que solicitou a revogação da prisão preventiva e aguarda uma decisão do ministro Alexandre de Moraes.
A audiência de custódia que decidiu pela manutenção da prisão foi feita no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes.
De acordo com a PF, Rodrigo Lima deveria ficar preso na Superintendência Regional da corporação na Paraíba, até segunda ordem.
Segundo a PF, os alvos da operação são investigados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido e crimes da lei de terrorismo.
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Quem é Rodrigo Lima
Rodrigo se declara, nas redes sociais, apoiador de longa data do ex-presidente Bolsonaro
Reprodução/Instagram/Rodrigo Lima
Rodrigo Lima, que se apresenta nas redes sociais como "gestor público", é um influenciador bolsonarista com milhares de seguidores no Twitter, Instagram e Facebook. Ele também gerencia um grupo no Telegram (anteriormente, era no Whatsapp), e mantém listas de transmissões nas redes sociais. Além disso, ele também foi ex-secretário de comunicação da Prefeitura de Bayeux, na Grande João Pessoa.
O influenciador publicou mensagens em redes sociais falando da "Festa da Selma", dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro.
De acordo com o relatório "Democracia Digital", elaborado em parceria entre o Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA e o Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da UFSC, com apoio do InternetLab e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e publicado em fevereiro, Rodrigo teria sido a primeira pessoa a usar o termo "Festa da Selma" para incitar os atos golpistas de 8 de janeiro.
Na página 8 do relatório, consta que de 1º a 8 de janeiro a expressão "Festa da Selma" foi mencionada 176 vezes em aproximadamente 1500 grupos e canais abertos. No dia 4 de janeiro, às 21h53, em um grupo com mais de 13 mil inscritos, Rodrigo postou um vídeo com a primeira menção ao termo.
"Gente presta atenção aqui no meu último stories de hoje. Os ingredientes da festa da Selma, tem que ter açúcar união, tem que ser esse açúcar. Açúcar união, tá, porque estavam fazendo um outro tipo de açúcar não dá certo, açúcar união, tem que ter organização que vai começar agora sábado que é a pré-festa da Selma, e a gente na hora da festa, a gente tem que ter cinco isso espigas de milho, cinco milho, pra festa sem um sucesso. A gente não está em um momento a seguir João então a gente tem que perguntar juntar o Brasil todo e ver se a gente acha cinco espigas de milho, tá, então essa vai ser é a nossa receitinha do bolo, açúcar união, organização e cinco espigas de milho pra ser um sucesso e a gente vai fazer essa festa pra Selma e vamos sair vitorioso está bom, repasse aí essa receita aí da da do bolo da nossa festa tá", diz a transcrição do vídeo.
Trecho do relatório "Democracia Digital", apontando Rodrigo Lima como um dos primeiros a usar o termo "Festa da Selva" para se referir aos atos golpistas de 8 de janeiro
Reprodução/Relatório Democracia Digital
Nos dias anteriores aos atos golpistas, Rodrigo chegou a postar o termo no Twitter. Veja:
Postagens de Rodrigo Lima, preso pela PF por envolvimento nos atos golpistas, citando 'Festa da Selma'
X/Reprodução
'Festa da Selma'
De acordo com a Polícia Federal, o grupo alvo dos mandados é suspeito de ter fomentado o movimento violento chamado "Festa da Selma" – um codinome usado pelos golpistas para se referir aos atos terroristas.
"O termo 'Festa da Selma' foi utilizado para convidar e organizar transporte para as invasões, além de compartilhar coordenadas e instruções detalhadas para a invasão aos prédios públicos", diz a PF.
"Recomendavam ainda não levar idosos e crianças, se preparar para enfrentar a polícia e defendiam, ainda, termos como guerra, ocupar o Congresso e derrubar o governo constituído", prossegue a descrição dos investigadores.
No dia 15 de janeiro – uma semana após os atos que depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e a sede do STF –, o Fantástico mostrou que os extremistas usavam esse termo "Festa da Selma" em trocas de mensagens em grupos golpistas.
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