Rayssa de Sá foi assassinada a tiros pelo ex-esposo no dia 21 de setembro, em Belém, no Agreste da Paraíba. Vítima conseguiu medida protetiva uma semana antes do crime Familiares e amigos realizam caminhada em homenagem a vítima de feminicídio por secretário de Belém
Pedro Júnior
Familiares, amigos, professores e estudantes do curso de direito da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) realizaram, nesta quinta-feira (28), uma caminhada em homenagem e pedindo justiça por Rayssa de Sá, de 19 anos, vítima de feminicídio pelo ex-marido Betinho Barros, secretário de comunicação de Belém, no Agreste da Paraíba. A jovem foi morta no dia 21 de setembro.
O grupo se reuniu às 15h em frente a sede da Patrulha Maria da Penha, em Guarabira, cidade onde os avós moram e onde ela foi sepultada. A caminhada percorreu as ruas do Centro do município com cartazes até o Fórum Doutor Augusto de Almeida. Todos os participantes usaram branco.
A família de Rayssa de Sá participou da caminhada em homenagem a estudante.
Pedro Júnior
As pessoas presentes estavam usando branco e levavam cartazes contra a violência doméstica e contra o feminicídio. Entre as mensagens estavam "Rayssa de Sá presente", "Quantas mulheres precisam morrer?" e "A maior epidemia no Brasil é o feminicídio". As duas filhas de Rayssa estavam presentes na caminhada junto aos familiares.
Caminhada em homenagem à Rayssa de Sá teve concentração em frente a Sede da Patrulha Maria da Penha em Guarabira.
Pedro Júnior
A mãe da vítima, Danúbia de Sá, afirmou que o ato realizado foi uma luta por justiça. "Para que não aconteça novamente e sonhos sejam destruídos", afirmou
A professora do curso de direito da UEPB em Guarabira, do qual Rayssa era aluna, Izabelle Ramalho destacou que quando uma mulher é vítima de feminicídio todas perdem.
"É uma vida que se vai por causa do machismo, do pensamento de posse. Os sonhos de Rayssa foram interrompidos por causa desse pensamento", disse a professora.
Também representando o curso, a estudante Lívia Flor ressaltou que o ato não foi apenas uma homenagem a Rayssa, mas um alerta para todas as mulheres. Lívia relata que conheceu a estudante na acolhida da faculdade.
"Ela [Rayssa] disse inclusive que queria se tornar juíza. Confraternizou com a gente e menos de uma semanas depois a gente soube que a vida dela foi tirada de uma forma tão trágica", relatou.
O irmão de Rayssa, Remysson de Sá informou que todos aqueles envolvidos de certa forma pela morte da estudante devem ser responsabilizados. "A gente correu atrás e procurou todas as medidas legais, mas infelizmente não realizaram da forma correta", relata.
Remysson ainda destaca que sua irmã "não pode ser mais um número" e que deve ser lembrada.
Vítima foi desencorajada a denunciar
A Polícia Civil da Paraíba está investigando supostas irregularidades envolvendo um servidor que desencorajou Rayssa de Sá a procurar ajuda policial para resgatar roupas e documentos que ainda estavam na casa do seu ex-marido, Betinho Barros, de 38 anos.
Em áudios enviados para a família, a estudante Rayssa de Sá, de 19 anos, afirma que um escrivão da Polícia Civil recomendou que a vítima procurasse a família do acusado para recuperar seus pertences, com objetivo de não envolver a polícia, porque seu ex-marido seria uma pessoa pública. Betinho Barros era secretário de comunicação de Belém e ex-vereador do município. Ele matou a tiros a estudante e depois tirou sua própria vida.
"Mãe, olha, já saí da delegacia, agora eu vou lá para a Defensoria Pública. Peguei minha identidade agora, porque Pedro ficou me enrolando, me enrolando, puxando assunto, dando conselhos, falando, falando
Ele disse que acha que eu consigo pegar essas minhas coisas de uma forma que não seja judicial, que eu fale com alguém da família dele para buscar, algo assim, se não resolver, aí eu vou com a polícia, mas ele disse para eu tentar resolver assim, porque ele é uma pessoa pública", disse Rayssa.
Acusado prometia acabar com as agressões, mas nada mudou
Betinho Barros ameaçou matar Rayssa de Sá por mensagem de texto antes do feminicídio
TV Cabo Branco/Reprodução
Remysson de Sá, irmão de Rayssa, explicou que a relação do casal começou tranquila, mas com o tempo foi evoluindo para agressões verbais até começarem as agressões físicas. A vítima decidiu pedir o divórcio e voltar para a casa dos familiares após uma agressão que a deixou inconsciente.
A mãe de Rayssa, Denúbia de Sá, disse que a estudante fez várias tentativas para acabar o relacionamento com Betinho de Barros, mas ele ameaçava tirar sua própria vida e prometia que iria acabar com as agressões.
Betinho Barros, secretário de Comunicação de Belém, na PB, mata esposa e depois tira a própria vida
Reprodução/Instagram
"Ele fazia promessas, dizia que ia mudar, que (as agressões) não iam se repetir, mas foi ficando cada vez mais intenso", afirmou a mãe.
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Rayssa cursava Direito na Universidade Estadual da Paraíba, no campus de Guarabira. A família da estudante acompanhava a vítima até ao local e nunca deixava ela sozinha em casa. Segundo a mãe de Rayssa, as ameaças se estendiam para dentro da instituição
"Quando ela começou a estudar, ele começou a dizer que ia para a faculdade ficar de olho nela, qualquer coisa matava ela lá", relembrou a mãe.
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Reprodução: TV Cabo Branco
Medida protetiva foi expedida uma semana antes do crime
A vítima denunciou e pediu medidas protetivas contra Betinho Barros no dia 13 de setembro, na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Guarabira. A vítima recebeu ligações e mensagens com ameaças até mesmo durante o registro da denúncia.
A medida protetiva de urgência solicitada por Rayssa foi atendida no dia seguinte, dia 14 de setembro. O juiz determinou o afastamento do acusado do lar ou local de convivência da vítima, proibindo que ele se aproximasse da vítima e estabeleceu um limite mínimo de 200 metros. Betinho Barros também foi proibido de manter contato com a vítima por meio de ligações telefônicas e envio de mensagens por celular (SMS), e-mail e outras.
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