Boletim de ocorrência foi registrado em dezembro de 2020 na delegacia da mulher. Segundo a vítima a relação dos dois era "conturbada e marcada por violências". João Paulo Casado é acusado de agredir a ex-companheira; ele pediu desculpas e disse que estava sob intenso estresse na dia das agressões
João Paulo Casado/Divulgação
O médico João Paulo Casado, flagrado por câmeras de segurança agredindo a ex-companheira na frente do filho, já foi denunciado por violência doméstica em 2020. Boletim de ocorrência mostra denúncia realizada na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) Norte em dezembro de 2020.
No boletim de ocorrência ao qual o g1 teve acesso, a vítima relata que se relacionou com o médico de 2016 a novembro de 2020. A relação dos dois era "conturbada e marcada por violências" e o médico costumava alertá-la que "cabaré que ele não mandava, fechava".
"João Paulo é um homem ciumento, possessivo, autoritário e agressivo, querendo sempre impor as vontades e decisões dele ao relacionamento", relatou à polícia.
A vítima denuncia que chegou a sofrer agressões físicas e verbais, além de ameaças de João Paulo. Durante o período que se relacionaram, os dois terminaram duas vezes e, em um dos términos, o médico chegou a invadir o apartamento dela e a agrediu fisicamente.
A mulher afirma em depoimento à polícia que João Paulo Casado tinha o hábito de tentar diminuir a autoestima dela e fazia comentários depreciativos. Que ela estava inserida em um ciclo de violência e que por isso acabou normalizando as atitudes do ex-companheiro.
O casal resolveu oficializar o casamento civil em 2020 e fechou muitos contratos para realizar uma festa de casamento. Faltando quatro dias para a data marcada, sem nenhuma justificativa, João Paulo terminou o relacionamento e ela precisou arcar com as dívidas.
Em dezembro de 2020, João Paulo passou a cobrar da vítima o ressarcimento financeiro da festa e a devolução das alianças através de mensagens e por intermédio de padrinhos e familiares.
A mulher afirma que todos os pertences do médico já haviam sido devolvidos, mas que ele se negava a devolver as chaves do apartamento onde ela morava.
Ao realizar a denúncia, a vítima decidiu não requerer medidas protetivas contra João Paulo Casado.
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Relembre o caso
Em um vídeo, gravado em abril do ano passado, o médico João Paulo Souto Casado está em um elevador e puxa o cabelo da mulher e a empurra várias vezes, na frente de uma criança. Já em outras imagens, de setembro de 2022, a vítima é agredida com socos dentro de um carro.
Em entrevista ao Bom Dia Paraíba, no último dia 11, a delegada Paula Monalisa explica que as imagens foram entregues à polícia, pela própria vítima, em agosto deste ano.
"Ela procurou a delegacia e nos forneceu essas imagens. Ela também foi ouvida, com bastante riqueza de detalhes, e as medidas protetivas já foram solicitadas e deferidas pela Justiça. O inquérito está em andamento", falou a delegada.
A polícia chegou a pedir a prisão de João Paulo Casado, mas o pedido foi negado pela Justiça. Ele chegou a se apresentar à polícia, ficou calado durante o depoimento e foi liberado.
Afastamento dos cargos
Após a divulgação das imagens nas redes sociais, a secretária interina de Saúde de João Pessoa, Janine Lucena, publicou nas redes sociais uma nota em que pediu o afastamento imediato de João Paulo do cargo do diretor técnico do Trauminha. No Diário Oficial de João Pessoa, foi oficialmente publicada a exoneração do diretor técnico do Trauminha.
Complexo Hospitalar de Mangabeira, o Trauminha, em João Pessoa
Dayse Euzéio/Secom-JP/Arquivo
Além disso, João Paulo também é Cabo Bombeiro Militar da Paraíba e médico atuante no Grupo de Resgate Aeromédico do Corpo de Bombeiros (Grame) e no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa.
A Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES-PB), em nota, informou que "repudia as agressões e se solidariza com a vítima, afastando, portanto, o servidor de sua função pública".
O secretário de Saúde da Paraíba, Jhony Bezerra, divulgou que afastou o servidor de ambas as funções no Trauma e no Grame.
Já o Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) informou em nota que determinou a abertura de uma sindicância, considerando os artigos 23 e 25 do Capítulo IV do Código de Ética Médica.
O Corpo de Bombeiros informou que um procedimento apuratório para investigar a conduta do médico, que é militar do CB desde 2005, vai ser aberto.
Os referidos artigos dizem respeito à "Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto", e "Deixar de denunciar prática de tortura ou de procedimentos degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente com quem as realize ou fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos que as facilitem."
Como denunciar casos de violência contra a mulher
Denúncias de estupros, tentativas de feminicídios, feminicídios e outros tipos de violência contra a mulher podem ser feitas por meio de três telefones:
197 (Disque Denúncia da Polícia Civil)
180 (Central de Atendimento à Mulher)
190 (Disque Denúncia da Polícia Militar - em casos de emergência)
Além disso, na Paraíba o aplicativo SOS Mulher PB está disponível para celulares com sistemas operacionais Android e iOS e tem diversos recursos, como a denúncia via telefone pelo 180, por formulário e e-mail.
As informações são enviadas diretamente para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que fica encarregado de providenciar as investigações.