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Família espera mais de 120 dias por liberação de corpo de bebê em maternidade de João Pessoa

Por PB Já em 14/07/2022 às 20:26:17
Parto de gêmeos foi realizado no dia 10 de março de 2022, mas um dos bebês não sobreviveu. Ana Paula Cardoso estava grávida de gêmeos, mas um dos bebês não resistiu; corpo só foi recebido pela família mais de 120 dias depois do parto

Ewerton Lima/TV Cabo Branco

Uma família da cidade de Mataraca, no Litoral Norte da Paraíba, esperou mais de 120 dias pela liberação do corpo de um bebê que nasceu morto, no dia 10 de março, na Maternidade Frei Damião, em João Pessoa. Os pais explicaram à reportagem da TV Cabo Branco que somente nesta quarta-feira (13) foram procurados pela unidade para a liberação, após o serviço social da cidade de Mataraca ter entrado em contato procurando por respostas.

O reconhecimento do corpo só foi realizado nesta quinta-feira (14), assim como a entrega da declaração de óbito para a família. O corpo foi encaminhado para a cidade de Mataraca, onde deverá ser velado.

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A Maternidade Frei Damião informou em nota que “desde o momento que a gestante adentrou ao serviço, já estava ciente pelo exame de ultrassonografia que se tratava de uma gestação gemelar e um dos fetos estava morto. E após esperar 90 dias da alta da mãe, como a família não voltou para pegar o corpo, o Serviço Social da maternidade entrou em contato com os pais e também com o Serviço Social do município de origem dos mesmos, solicitando que viessem recolher o corpo”.

Esta informação, porém, é contestada pela família e pelo assistente social responsável pelo caso, Willian Souza. Conforme os familiares, a mãe, Ana Paula Cardoso, de 24 anos, estava grávida de gêmeos e teve o parto realizado na Maternidade Frei Damião por se tratar de uma gravidez de risco. Após a cesárea que aconteceu em 10 de março, foi informada por profissionais da unidade de saúde que um dos gêmeos não havia sobrevivido, mas não chegou a fazer reconhecimento ou ver o bebê natimorto após o parto.

O bebê que sobreviveu precisou passar 15 dias internado na UTI neonatal da maternidade para ganhar peso. Os familiares alegam que nenhum deles foi procurado para fazer o reconhecimento durante esse período.

Ana Paula Cardoso estava grávida de gêmeos, mas um dos bebês não resistiu; corpo só foi recebido pela família mais de 120 dias depois do parto

Ewerton Lima/TV Cabo Branco

Depois da alta médica, a mãe informou que deixou contatos telefônicos de familiares e até do motorista do carro que fez o transporte até a maternidade.

“Eu passei quinze dias aqui internada e nada deles me falarem do corpo do outro. Eu saí, deixei número de telefone de minha irmã, de minha mãe e até do motorista do carro que levou a gente, e eles nada de me informarem”, relatou Ana Paula.

O pai da criança, Joseph da Silva, de 17 anos, disse que tentou ver o bebê que nasceu morto logo após o parto, mas que não foi autorizado. Ele também contou que voltou ao hospital dois dias depois da alta para tentar liberar o corpo do bebê, mas que mais uma vez não foi autorizado a fazer o reconhecimento por ser menor de idade.

Nesta quinta-feira (14), mesmo após a liberação do corpo, Joseph ainda disse que teve dificuldade para ver o filho.

"Eu pedi pra ver o corpo da criança, e a Assistência Social falou que só posso ver o corpo da criança assim que a funerária chegar, quando botar dentro do caixão. E eu posso ver ele ali, naquele momento, aqui eu não posso ver meu filho. Eu tô pedindo pra ver meu filho e não posso. Depois de tanto tempo, causando ainda mais dor e sofrimento pra a gente".

O assistente social que acompanha o caso, Willian Souza, relatou que soube do caso por meio do Centro de Referência em Assistência Social (Cras), que foi procurado pelos pais da criança. Ele entrou em contato com a maternidade para entender melhor a situação e teve como resposta que as informações sobre o procedimento para o reconhecimento e liberação do corpo foram passados para a mãe, mas que ela aparentava estar “um pouco aérea”, possivelmente por causa do pós-parto e também pela notícia da morte de um dos filhos que gestava.

“Entramos em contato previamente para entender melhor a situação. Quisemos ouvir a história do hospital e a partir disso buscamos os melhores caminhos. Eles falaram que a informação já havia sido passada para a família, mas a mãe que recebeu essa informação sobre o fluxo estaria um pouco aérea”, explicou.

Assistente social de Mataraca que acompanha o caso, Willian Souza, acredita que a família não foi informada corretamente sobre o procedimento de liberação do corpo do bebê

Ewerton Lima/TV Cabo Branco

Willian Souza acredita que a família não foi informada corretamente. “Penso que o hospital deveria se assegurar que a família havia entendido o fluxo. Ficou parecendo que foi deixado pra lá, tipo, eles que se virem, quando deveria ter tido um zelo pelos direitos dos usuários”.

Segundo ele, ninguém da família teve o direito de ver o corpo do bebê após o parto ou durante a internação da mãe e nem recebeu nenhum documento do hospital sobre a morte da criança até esta quinta-feira (14).

"A Maternidade mesmo podia ter me avisado de tudo no começo porque tinha me poupado de outro sofrimento. Porque é duro pra mim. Como mãe, é muito difícil pra mim. Passar por tudo isso de novo é muito difícil", disse Ana Paula.

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