Ao todo, na Paraíba, 285 pessoas estão nas fila para cirurgias transexualizadoras no Ambulatório TT/PB, com 189 para mastectomia e 96 histerectomia. Cristian conseguiu fazer a tão sonhada mastectomia em outubro, através do Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais da Paraíba
Reprodução/TV Cabo Branco
Em tratamento há 8 anos no Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais da Paraíba (Ambulatório TT/PB), no Hospital Clementino Fraga, o técnico-administrativo Cristian Lima conseguiu em outubro a cirurgia de mastectomia masculinizadora – um sonho de longa data.
Casa da Baixa Costura acolhe e capacita pessoas trans, travestis e não-binárias
O procedimento consiste na retirada das mamas e reconstrução do peitoral para características masculinas. Muitos homens transgêneros buscam adequar o corpo à forma com o qual se reconhecem e recorrem à cirurgia para conquistar esse objetivo.
“Eu já usava faixa pra esconder porque sempre quis ser menino. Não gostava de me olhar no espelho, tirar a camisa
tinha alguma coisa ali que não me fazia bem. Foi um longo caminho, hoje aos 37 anos me sinto no meu melhor momento”, disse ele.
Este domingo (29) é o Dia Nacional da Visibilidade Trans e ao todo, no estado, 285 pessoas estão nas filas para cirurgias, com 189 para mastectomia e 96 para histerectomia.
O Ambulatório TT/PB tem atualmente 950 usuários, sendo 300 deles atendidos no interior do estado. Já o ambulatório de João Pessoa foi inaugurado em 2013 e até o momento já foram realizados mais de 10 mil atendimentos.
Esses usuários são oriundos dos mais variados municípios da Paraíba, além de outros estados brasileiros, como é o caso do Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Em processo de transexualização desde 2015, Cristian relata o alívo. "Dá para você poder respirar com mais tranquilidade”, afirma. O caminho foi longo, mas a mastectomia e o nome social garantiram a identidade que ele tanto sonhava.
"Os olhares incomodavam, as pessoas passavam no ônibus e gritavam. Quando fui para a Justiça mudar os documentos, eu entrei na sala do juiz e ele me olhou, disse assim: “não tem nem o que questionar aqui. Você é um homem, meu filho!", relata.
Visibilidade Trans: entenda importância da promoção da diversidade e combate a transfobia
Como buscar tratamento
Segundo o Governo do Estado, para garantir o acesso ao processo transexualizador, o(a) usuário(a) deve ter idade mínima de 18 anos.
A portaria que rege o processo transexualizador do SUS não permite menores de idade, mas existe uma resolução do Conselho Regional de Medicina (CRM) que autoriza fazer o bloqueio hormonal aos 16 para iniciar o processo. Porém este processo não está regulamentado no Sistema Único de Saúde (SUS).
Dessa forma, na Paraíba, o primeiro passo é comparecer no Espaço LGBT e solicitar o encaminhamento para o atendimento. Após essa etapa, o usuário comparece a uma roda de conversa com a equipe multiprofissional do ambulatório.
A roda de conversa acontece toda primeira terça-feira de cada mês, sempre às 14h30, no auditório do Complexo Clementino Fraga e é importante que a pessoa trans esteja munido das cópias do RG, CPF e Cartão SUS
Sérgio Araújo é coordenador do Ambulatório TT/PB há nove anos e reitera as etapas desse processo.
"Primeiro de tudo tem que ter idade mínima de dezoito anos. Munido de documentos tipo: RG, cartão SUS, comprovante de residência... a pessoa se dirige a um dos centros de referência que são nossa porta de entrada. Lá são atendidas, recebem encaminhamento e vem pra cá junto dar o ponta pé inicial pra essa luta!"
Já para as cirurgias, o CFM e o Ministério da Saúde recomendam que a pessoa tenha idade mínima de 21 anos e passe por acompanhamento multiprofissional, com psicólogo, psiquiatra, endocrinologista, assistente social e cirurgião por no mínimo dois anos. Esse período é super importante para que o paciente se certifique da transição que quer fazer.
"Em abril vamos realizar 30 cirurgias de mastectomia masculinizadora aqui na Paraíba. Então, é um marco pra gente. Já conseguimos vários avanços e um deles é habilitar a Maternidade Frei Damião como único e primeiro hospital habilitado no processo transexualizador", explica Sérgio.
Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba