Para Ninão, amputar a perna foi um mal que trouxe um bem, já que depois da cirurgia o gigante ganhou mais visibilidade e foi contratado como paratleta na modalidade de vôlei sentado. Ninão com medalha de bronze do mundial de vôlei sentado
Joelison Fernandes da Silva/Arquivo pessoal
“Costumo falar que não tem um mal que não venha para um bem”. Este foi o principal aprendizado que Joelison Fernandes da Silva, o homem mais alto do Brasil, absorveu no ano de 2022, após momentos de dificuldade e superação. Foi somente depois de amputar a perna direita que Ninão, como o paraibano que mede 2,37 metros é popularmente conhecido, recebeu a oportunidade de realizar o sonho de se tornar atleta, deixou de ser reconhecido apenas pela estatura e passou a ser um grande reforço para a seleção brasileira de vôlei sentado.
“Está sendo diferente. Mas é muito gratificante ser reconhecido assim”, disse o paraibano com um sorriso tímido.
O desejo de ser atleta começou quando Joelison era ainda uma criança – época em que já havia sido diagnosticado com gigantismo - e fazia do esporte uma brincadeira de primos, no Cariri da Paraíba. A altura esteve sempre ao seu favor, mas a chance nunca apareceu.
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Desde o começo da adolescência, era comum que Ninão se destacasse em qualquer lugar em que estivesse. Com isso, ele se tornou uma presença frequente em programas de televisão e eventos pelo país inteiro. Essas atividades complementavam a renda e o sustento da família, que vivia com um salário mínimo.
A necessidade de casa e roupas adaptadas por causa do tamanho foi apenas um dos dilemas enfrentados. Em idade escolar, o bullying fez com que Ninão se isolasse e não conseguisse manter uma vida comum.
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“Sofri, sofri muito. Passei 21 anos da minha vida num sítio porque tinha vergonha vir na cidade. O povo olhava. Parei de estudar também devido a isso”, lembrou.
Em abril de 2015, a solidão acabou, o jogador se tornou equipe. Ninão conheceu o amor e casou com a atual esposa, Evem Medeiros. O relacionamento é prova de que o amar não tem medidas, já que a diferença de altura do casal é de quase um metro.
Ninão segurando medalha de prata conquistada no paulistano de vôlei sentado
Joelison Fernandes da Silva/Arquivo pessoal
No entanto, com o avanço da idade, problemas de saúde começaram a surgir e comprometeram a locomoção e a qualidade de vida do gigante.
Os trabalhos como presença vip e as publicidades nas redes sociais também foram impactadas. As dores não deixam Ninão sequer andar. Viajar em uma cadeira de rodas se tornou uma tarefa tão impossível quanto se erguer e ficar de pé.
Acometido por uma osteomielite, a saída foi amputar uma das pernas, decisão definida por ele como "dura e dolorosa". As dificuldades também estiveram presentes nesse momento. Para conseguir pagar pelo procedimento e por uma prótese para voltar a andar, o jovem precisou fazer uma campanha na internet para arrecadação de recursos. E foi justamente com a solidariedade dos brasileiros, que ele conseguiu custear a cirurgia e bancar a esperança de uma vida melhor.
Na manhã do dia 7 de dezembro de 2021, Ninão passou por uma cirurgia para passar pela amputação. Porém, ele não sabia que começara a se preparar não somente para um ano novo, mas também para uma nova vida.
Comoção, desempenho no vôlei sentado e melhora na qualidade de vida
A história do paraibano comoveu o país inteiro, fez com que ele ganhasse mais visibilidade e abriu uma porta que pareceu impossível por quase três décadas.
Em julho de 2022, o homem mais alto do Brasil começou a viver um sonho, dando início à carreira de paratleta de vôlei sentado, no Clube Atlético Paulistano, onde assinou um contrato de dois anos e ajudou o time na conquista pela medalha de prata do campeonato paulista.
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“Agora, jogando profissionalmente, é um sonho realizado, sem dúvida”, garantiu emocionado pela retrospectiva dos últimos 12 meses.
Como é impossível não ser notado, Ninão se tornou uma aposta mundial no esporte e também já faz parte da seleção brasileira de vôlei sentado. E foi jogando pelo Brasil, que a equipe alcançou a medalha de bronze no mundial.
“Pra mim, é uma grande honra fazer parte dessa equipe. Só tenho a agradecer pela a confiança”, reforçou.
Ninão só consegue treinar em São Paulo. Ele não achou uma quadra para continuar praticar o vôlei sentado na Paraíba, onde continua morando, porque precisa de uma equipe adequada pra isso. As viagens são cansativas, mas têm valido muito a pena.
Os desafios, contudo, não desapareceram. Mas a vontade de vencê-los é cada dia maior. Se em quadra, o gigante intimida os adversários, na vida, ele enfrenta as dificuldades cara a cara, com coragem.
“A adaptação tá indo aos poucos, estou na batalha. Cada dia um novo avanço”, explicou.
E foi o esporte que proporcionou a Ninão o troféu que mais desejou na vida: recuperar a saúde. Junto com o novo trabalho, veio uma prótese nova e um atendimento médico multidisciplinar de ponta.
“Minha vida mudou bastante. Costumo falar que minha saúde melhorou 200%. Hoje viajo sozinho pra todo lugar, isso pra mim é um avanço muito grande”.
Em um ano, o gigante brasileiro não só conquistou autonomia, independência e realização profissional. Agora, com os pés no chão, pode sonhar e marcar o ponto do set (tempo da partida do voleibol que termina quando um dos times alcança 25 pontos) no jogo da vida.
“Meus planos pra o futuro são de continuar no esporte aprendendo cada dia mais e tentar ser um homem melhor”.
Além disso, Joelison continua dividindo a agenda de atleta com a realização de propagandas.
Entenda o que é osteomielite
Entenda o que é osteomielite
A osteomielite é um nome genérico dado a qualquer infecção óssea, que pode ser causada por bactérias, fungos ou vírus (veja também a explicação no vídeo acima). É uma doença infecciosa, em que uma bactéria coloniza o osso e forma um abscesso.
O ortopedista André Ribeiro explicou que as causas podem ser várias. "No nosso meio, a mais frequente são as fraturas expostas, por serem graves e contaminadas podem levar a infecção óssea, mas podem estar relacionadas ao diabetes, insuficiência vascular periférica, imunodeficiência e outras doenças ou quaisquer fatores que alterem a imunidade geral ou integridade óssea local.
Já a reumatologista Eutilia Andrade Medeiros Freire explicou que, geralmente, a bactéria – sendo mais comuns as stafilococos - entra pela pele, ganha a corrente sanguínea e se aloja no osso. Fungos e tuberculose também podem provocar a doença, mas com uma baixa recorrência. As bactérias, geralmente, se aproveitam de organismos debilitados.
Os sintomas da infecção podem se manifestar como febre, calafrios, dor no local atingido, vermelhidão e fraqueza muscular. Já nos casos mais avançados pode existir a saída de secreção purulenta pela pele, a fístula, podendo sair até fragmentos ósseos pela pele.
Segundo o ortopedista, existe cura para a doença."Nos casos agudos, onde se procede o tratamento cirúrgico com perfuração óssea para drenagem do abscesso intra ósseo, e seguido de antibioticoterapia por tempo prolongado existe cura", disse.
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