Gabriela Carneiro está no terceiro ano do doutorado em educação e tem uma filha de nove anos. Bolsa de R$ 2.200 é parte da renda familiar. Gabriela Carneiro, doutoranda da UFPB, teve bolsa atrasada após bloqueios de verbas na educação
Gabriela Carneiro/Arquivo pessoal
Gabriela Carneiro é doutoranda em educação na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com os cortes e bloqueio de verbas do Ministério da Educação que causaram atraso nas bolsas, ela se preocupa com as contas e com o comprometimento da pesquisa, pois parte de sua renda familiar é formada pelos R$ 2.200 que recebe como bolsista da Capes.
"Eu tenho uma filha de 9 anos e parte da minha renda familiar é composta pela bolsa, que vem para me dar condição de sobrevivência mesmo, de pagar contas, de me deslocar de cuidar da minha filha com qualidade", relatou.
O g1 entrou em contato com a UFPB, por meio de aplicativo de mensagens e por e-mail, para saber se há alguma atualização sobre o caso. No entanto, até as 19h não recebeu resposta. Nesta terça-feira (6), a Capes comunicou em nota que os bloqueios comprometeram a possibilidade do pagamento mais de 200 mil bolsas, cujo depósito deveria ocorrer até esta quarta-feira (7).
Natural de Santa Luzia, no Sertão da Paraíba, Gabriela, de 33 anos, vive em João Pessoa há dez anos, desde a graduação. Além de despesas básicas, como alimentação e aluguel, parte bolsa é utilizada para que ela se desloque até os locais da pesquisa de campo, que são escolas de educação básica. Preocupada com a questão financeira, a doutoranda teme que o rendimento da pesquisa também seja comprometido.
"Meu campo de pesquisa é na escola, na educação básica, e isso interfere completamente no meu deslocamento. Isso interfere no foco da minha produção, porque não tem como separar, né, uma questão financeira. Para mim, pesquisar na pós graduação é um trabalho intelectual, então não tem como a gente produzir conhecimento deslocada da nossa base material", comentou.
As bolsas são oferecidas para que os pesquisadores se dediquem em tempo integral à produção de conhecimento. "É final do ano pra todo mundo, enquanto alguns estão recebendo seus salários com decimo terceiro, os estudante não estão recebendo a bolsa para pagar seus aluguéis", lamentou Gabriela.
Bloqueios na educação
Um decreto do governo federal, de 1º de dezembro, "zerou" a verba do MEC disponível para gastos como bolsas estudantis; salários de funcionários terceirizados (como os das equipes de limpeza e segurança) e pagamento de contas de luz e de água. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) teve R$ 16.069.314,98 congelados.
No dia 28 de novembro, entidades afirmaram que o Ministério da Educação (MEC) bloqueou verbas do orçamento das universidades federais. Na época, procurada pelo g1, o reitor da universidade, Valdiney Gouveia, comunicou em nota que não haveria pagamento de salários, bolsas, auxílios estudantis e salários de terceirizados.
No dia 1º de dezembro, o ministério desbloqueou R$ 366 milhões, mas horas depois voltou a zerar verbas das universidades e institutos federais. Nesta segunda-feira (5), o MEC anunciou, durante reunião com o grupo de transição do governo, que não conseguirá pagar as bolsas dos cerca de 14 mil médicos residentes que trabalham em hospitais universitários federais.
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