Trabalhadores, artistas e público são a alma da festa, que representa o sustento de muita gente. Dona Marluce e o neto vendendo pipoca no São João 2022 de Campina Grande
Iara Alves/g1
Bem no meio do Parque do Povo, há um colorido que se destaca, um cheiro que encanta e dá água na boca. São as pipocas caramelizadas de Dona Marluce Marinho, de 58 anos. Ela é uma das inúmeras faces que fazem o São João de Campina ser grande. A representação de homens e mulheres, que são a alma da festa, que se alegraram com o retorno do evento, que representa o sustento de muitos trabalhadores.
Dona Marluce trabalha nas festas juninas da cidade há mais de uma década. No começo, vendia bebidas com o filho. Há cerca de cinco anos, passou a comercializar pipocas gourmet com o neto.
“Achei bom voltar. Tava fazendo muita falta o São João. A gente que trabalha, dá pra ganhar algum trocado. Se não tiver São João, não tem trabalho pra ninguém”, celebrou ao mesmo tempo em que lamentou o que passou.
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A senhora, tão doce quanto as guloseimas que vende, contou que também trabalha como doméstica e fazendo faxinas. Mas, essas duas atividades também ficaram restritas ou praticamente paradas durante a pandemia de Covid-19. Por isso, ela ficou quase totalmente sem fazer nada nos últimos dois anos.
O cardápio – que tem como principal matéria-prima a alegria por poder trabalhar novamente - oferece opções para todos os paladares. As pipocas estão disponíveis nos sabores chocolate, leite ninho, caramelizada e salgada/natural.
Junho, quando tem São João, é o mês em que a família de Dona Marluce consegue uma renda melhor por ter trabalho quase todos os dias. Já no restante do ano, com a retomada de outros eventos, ela fecha contratos para trabalhar em festas infantis, escolas e outras comemorações do tipo.
Pipoca sabor chocolate vendida por dona Marluce no São João de Campina Grande
Iara Alves/g1
Uma chance a cada 12 meses
O São João representa para Poliana Kelly, de 32 anos, uma chance que ela só recebe uma vez a cada 12 meses: a de estar empregada.
Esta é a segunda vez que ela trabalha como varredora no Parque do Povo. Neste ano, foi contratada por meio de uma seleção municipal que, ao todo, contemplou 220 auxiliares de serviços gerais.
O expediente é cansativo, dura pelo menos 12 horas por dia. A varredora começa a trabalhar às 18h e só conclui o serviço junto com o nascer do sol, às 6h do dia seguinte.
Mesmo assim, Poliana acredita que todo o esforço que ela empenha, compensa.
“Eu tenho um menino pra dar conta. Então com o dinheiro daqui eu compro as coisas do meu filho”, explicou concentrada, enquanto não soltava a vassoura.
Poliana trabalha como varredora no São João 2022 de Campina Grande
Iara Alves / g1
O trabalho que Poliana desempenha é importante não só para a vida pessoal dela, por causa do salário, mas também para o andamento da festa como um todo.
Com dezenas de milhares de pessoas indo ao Parque do Povo todos os dias, a quantidade de lixo produzida é imensa, quase uma tonelada diariamente. Muita gente nem imagina que para o local estar limpo no dia seguinte, existe uma turma que trabalha a madrugada inteira.
E por lá, muita coisa é reaproveitada. Os resíduos são coletados por pelo menos 40 catadores e depois transformados em material reciclável, por meio do projeto “Recicla São João”.
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A coleta de latas, papéis, plásticos e papelões proporciona, além de uma festa mais bonita e ecológica, uma destinação ambientalmente responsável para os resíduos produzidos e também uma renda extra para os catadores envolvidos no projeto, já que além do salário eles também são beneficiados com o valor gerado com a coleta.
Dona Maria Aparecida do Nascimento, de 49 anos, é uma das trabalhadores do “Recicla São João”.
“É bom pra gente e pra o pessoal que vem se divertir. A gente reaproveita o material e tira a nossa renda”, contou sentada, enquanto descansava por alguns minutos.
Todo o dinheiro arrecadado, segundo dona Aparecida, é dividido para as cooperativas que participam do projeto. O valor é de aproximadamente R$ 1,5 mil a R$ 2 mil para cada catador só com a coleta, fora o salário.
Maria Aparecida na frente da cabine do 'Recicla São João'
Iara Alves/g1
"Parece um sonho, né? Deixa eu ver se é verdade mesmo"
Os artistas também têm papel na festa. Afinal, são eles quem atraem o público e garantem a animação. A carreira de Flávio José se confunde com a história do São João de Campina Grande. O paraibano, é sempre uma das atrações da festa. Neste ano, fez show no primeiro dia do evento.
Flávio José no São João de Campina Grande
Carol Diógenes/Medow
Assim como vários outros artistas, Flávio José precisou suspender a agenda de shows em 2020, por conta da pandemia da Covid-19. Com o avanço da vacinação e a queda na quantidade de casos, ele pôde voltar aos palcos, e conta que foi como recomeçar.
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“No primeiro show que a gente fez eu tive uma sensação que estava iniciando a carreira, com aquela expectativa. A gente tocando, fazendo o show, as pessoas vibrando e cantando
Todos os músicos olhando um pro outro se perguntando "será que é verdade isso? a gente retomou?'”, recordou.
E quando subiu ao palco, ele nem parecia acreditar no mar de gente que os olhos alcançavam.
“Parece um sonho, né? Deixa eu ver se é verdade mesmo”, se questionou.
Após ter certeza que o momento tão sonhado era realizado, o paraibano começou com o repertório que ele confessou não mexer muito por causa das preferências dos fãs.
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"Dois pra lá, dois pra cá": a saudade do público que dança até sem música
E o que seria dos festejos juninos, se não fosse o público? Se no Parque do Povo há quem cante, limpe e trabalhe de tantas maneiras, também existe quem lembra paixões antigas como dançar forró.
O zelador João Queiroz, de 64 anos, logo tratou de puxar a companheira para o meio de uma palhoça. Nada de anormal para as noites de São João em Campina Grande. Mas, nesse caso, nem havia música. O palco estava vazio, mas o casal já ensaiava não os tradicionais “dois pra cá, dois pra lá”, eles rodopiavam e ao mesmo sorriam com uma alegria que irradiou toda a ilha de forró.
João Queiroz e a companheira dançando no São João de Campina Grande
Iara Alves/g1 PB
“Eu procurei sempre me cuidar [na pandemia], tomei as quatro [doses de] vacinas [contra a Covid-19] e lavei minha mão umas 20 vezes por dia pra chegar aqui hoje. Eu vim pra dançar, sou apaixonado pela dança”, revelou o simpático dançarino sobre um cuidado que pouca gente tem tomado.
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E os fãs também marcam presença. A nutricionista Amanda Nunes chegou quase quatro horas antes da apresentação do Gusttavo Lima começar e se espremeu nas grades que ficam bem em frente ao palco para ter uma visão privilegiada do ídolo e conseguir ser notada por ele.
“Vim trazendo amor e carinho porque você merece muito. Te amo, embaixador”, era a declaração escrita em um cartaz feito à mão.
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A jovem, que agora tem 23 anos, é fã do Embaixador desde que tinha apenas 11 anos de idade, quando ele ainda nem tinha uma carreira nacional de tanto alcance.
Em mais de uma década de admiração, ela já fez várias loucuras e demonstrações de carinho, como viagens e 10 horas de espera por um show.
Fã no show de Gusttavo Lima no São João 2022 de Campina Grande
Iara Alves / g1
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